Friday, February 27, 2004

SE...


Se podes conservar o teu bom senso e a calma,
Num mundo a delirar, pra quem o louco és tu;
Se podes crer em ti, com toda a força d’alma,
Quando ninguém te crê; se vais, faminto e nu,
Trilhando sem revolta um rumo solitário;
Se à torva intolerância, à negra incompreensão
Tu podes responder, subindo o teu calvário,
Com lágrimas d’amor e bênçãos de perdão;

Se podes dizer bem de quem te calunia;
Se dás ternura em troca aos que te dão rancor,
Mas sem a afetação dum santo que oficia,
Nem pretensões de sábio a dar lições de amor;
Se podes esperar sem fatigar a esperança;
Sonhar, mas conservar-te acima do teu sonho;
Fazer do Pensamento um Arco de Aliança
Entre o clarão do inferno e a luz do céu risonho;

Se podes encarar, com indiferença igual,
O Triunfo e a Derrota – eternos impostores;
Se podes ver o Bem oculto em todo o mal
E resignar, sorrindo, o amor dos teus amores;
Se podes resistir à raiva ou à vergonha
De ver envenenar as frases que dissestes
E que um velhaco emprega, eivadas de peçonha,
Com falsas intenções que tu jamais lhes deste;

Se és homem pra arriscar todos os teus haveres
Num lance corajoso, alheio ao resultado
E, calando em ti mesmo a mágoa de perderes,
Voltas a palmilhar todo o caminho andado;
Se podes ver por terra as obras que fizeste,
Vaiadas por malsins, desorientando o povo,
E sem dizer palavra e sem um termo agreste
Voltares ao princípio, a construir de novo;

Se podes obrigar o coração e os músculos
A renovar o esforço, há muito vacilante,
Quando já no teu corpo, afogado em crepúsculos,
Só existe a Vontade a comandar “Avante”;
Se, vivendo entre o povo, és virtuoso e nobre
Ou, vivendo entre os reis, conservas a humildade;
Se, inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti, à luz da Eternidade;

Se quem recorre a ti encontra ajuda pronta;
Se podes empregar os sessenta segundos
Dum minuto que passa, em obra de tal monta
Que o minuto se espraie em séculos fecundos;

Então, ó Ser Sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos e os espaços;
Mas, inda para além, um novo sol rompeu
Abrindo um infinito ao rumo dos teus passos;

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem recear jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um HOMEM.
A Mente Divina

A Ciência esotérica espiritual começa assinalando que podemos crer, mas não sabemos que Deus existe; tudo o que conhecemos é que existimos e o mundo também. É a partir destes fatos positivos que se deve construir e não a partir de crenças dogmáticas e contestáveis.
Demonstrando que o eu, o tempo, o espaço e a matéria são mentais, a presença do mundo inteiro no pensamento humano perde todo o sentido se não existe uma Mente mais vasta que o possa pensar, porque o espírito humano nunca criou voluntariamente tal mundo. Crer que estas idéias podem existir separadamente, sem um pensamento para engendra-las, é crer num absurdo. Não obtemos o conhecimento da existência do mundo através de nossos cinco sentidos senão porque temos o conhecimento de nossa própria existência. As idéias não podem estar suspensas no vazio, devem pousar numa base. Esta base deve achar-se sempre presente, com idéias ou não. É este principio que nos permite duvidar do valor facial das aparências materiais porque sua existência prende-se a ele. Pensar o mundo pressupõe a existência de um Espírito que pensa. O erro do materialista é ignorar o Espírito Cósmico para o qual um mundo deve existir, e do qual não pode ser separado. Enquanto o mundo exista este Espírito deve estar lá. Esta dedução é rigorosamente reclamada pelo raciocínio.
Com efeito, o mundo como idéia proclama o fato de que uma Mente superior consciente e inteligente existe para engendrar simultaneamente e finalmente esta idéia. Por outras palavras, em nenhum momento o mundo foi sem Deus, neste sentido. O corolário natural e inevitável é que o homem nunca foi privado da presença de Deus. A própria existência do mundo deve, portanto, depender da presença imanente da Mente Divina, como a própria existência de cada homem deve tê-lo como Senhor secreto e interior.
Como se poderia qualificar verdadeiramente de culto um homem que tivesse passado e vivido na terra sem procurar de algum modo compreendê-lo, ou pelo menos comunicar-se com ele? O orgulho humano deve, sem duvida alguma, dobrar os joelhos diante do Espírito, porque é ele não somente o primeiro estado da matéria mas também a fonte primeira do ser individual. Sem sua presença, o ateu seria incapaz de formular sua negação, e o agnóstico, suas dúvidas.
É impossível construir uma metafísica capaz de resistir às criticas sem se elevar às bases da Ciência Esotérica espiritualista. A religião não pode achar outra base cientifica; todas as outras são apenas dogmáticas e só fazem apelo à fé, com muito valor verdadeiramente, mas com pouco apoio na razão.